De Rivera a Tacuarembó
A ruta 5, rodovia uruguaia que pedalei hoje, é muito boa. Verdade, tem alguns trechos onde o acostamento é mais grosso, porém não muito ruim. Há muito pouco movimento e os motoristas parecem todos muito educados, de forma que mesmo nos trechos de acostamento grosso, é possível ir pela faixa branca. Que aqui nem tem tartaruga. Falando em educação, muitos motoristas me cumprimentam, buzinam, ao me ver pedalando. Mais do que no Brasil.
Porém não há muitos lugares para comer pelo caminho. Só avistei um, e nem tinha placa! Só parei porque vi o pequeno sinal luminoso escrito "abierto". Comi duas empanadas e tomei um litro de suco. Soubesse que não encontraria mais nenhum lugar antes do destino final do dia, teria comido mais. Fora isso, há em alguns lugares vendedores de melancia e melão, como no Rio Grande do Sul (sandia e melón, em espanhol). Porém no meio do pedal longo, sinto falta de comida salgada mesmo.
O clima por aqui é bem úmido, como na região de Santana do Livramento. Mas a temperatura tem se mantido acima dos 18, 19 graus, de forma que mesmo se chover, não devo precisar do equipamento extra de chuva que adquiri. Meio quilo que devo levar amarrado no meu selim até Montevidéu, sem uso. A tentação de se desfazer é grande, porém mante-lo ali é o preço da minha tranquilidade.
A chuva me perseguiu um pouco na estrada hoje, mas não chegou a me alcançar. Primeiro umas nuvens pretas em cima de onde estava, e umas gotas. Só que o vento estava levando elas na direção contrária da minha, aí escapei. Depois o tempo fechou feio lá no horizonte para onde eu ia, e o vento trazendo pro meu lado. Porém a chuva de esgotou antes de chegar a mim.
Novamente cheguei tarde no restaurante, no primeiro que pode encontrar. Perguntei se ainda estavam servindo almoço e a garçonete explicou, em espanhol, que já estavam tirando as mesas. Mas me serviu. Perguntei as opções, não entendi tudo mas pedi "El plato del día", que eu tinha entendido que era um tipo de carne com um acompanhamento que não entendi. Quando veio descobri que era purê de batatas. Por aqui não tem sido comum encontrar lugares que sirvam suco natural; quando muito acho suco de caixinha. Dessa vez foi refrigerante mesmo.
De lá fui para uma bicicletaria da qual tinham me passado o contato. Fui mais pra conhecer pessoas, porém aproveitei para pedir uma ajuda com uma irregularidade que eu estava sentindo na roda ou pneu traseiro. Primeira vez que vejo alguém usar um estetoscópio para diagnosticar problemas de bicicleta! O Pablo acabou descobrindo que era o pneu mesmo, que estava mais alto em um ponto. Talvez tenha sido mais gasto naquele lugar por conta de uma freiada, ele disse. Sugeriu trocarmos com o pneu da frente que está mais novo. Com isso fica mais tranquilo para acabar de chegar.
Enquanto ele mexia na bicicleta, conversei um pouco com o pai dele sobre política do Brasil e do Uruguai. Consegui entender quase tudo e me fazer entender o suficiente. Até elogiaram meu espanhol que eu acho horrível, mas realmente meu entendimento é razoável. "Mujica es una buena persona. El no tiene ninguna familia, entonces no tiene para quen robar. Pero lo problema es los otros que estaban con él". "La política es como una rueda: gira e siempre vuelve al mismo lugar e las mismas personas".
Terminado o serviço, Pablo me mostrou sua linda coleção de bicicletas. Várias bicicletas muito antigas de vários países, reformadas. Inclusive uma cargueira que ele mesmo fez soldando o quadro é tudo. Um serviço de amor realmente.
Confirmei com eles o melhor lugar para ficar, mais afastado da cidade possível, em direção à onde vou amanhã. Para minha sorte eles também servem jantar (cena, em espanhol). Infelizmente só às 20h, e por isso aqui estou lhes escrevendo isso e aguardando.
Este site é basicamente um lugar para descarregar meus pensamentos sobre os mais variados assuntos que me interessarem. No momento se trata de viagens de bicicleta sem marcha e fixa. Você pode falar comigo escrevendo para contato_autor@bus142.net