Irani a Getúlio Vargas
"Em silêncio se chega longe"
Sai tarde como tenho feito ultimamente, por pura preguiça. Estava na estrada em torno de 7h40. O Felipe, funcionário do posto onde tem o hotel que fiquei hospedado, havia me dito que na serra que se seguia eu com certeza teria de empurrar minha bicicleta sem marcha. Porém achei a serra mais fácil que a de Porto União a Irani, e consegui subir pedalando sem problemas. Cruzei a divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul. Foi uma manhã de ar frio e cheia de neblina até em torno das 10h da manhã, tornando o pedal muito agradável.
De tarde passei por dentro de Erechim para comprar equipamentos adicionais de chuva. Localizei a loja que tinha respondido minhas perguntas pelo facebook e perguntei para o atendente sobre impermeáveis. Uma moça veio de dentro da loja perguntando se eu era o Daniel. Ela que tinha me respondido. Me perguntaram detalhes de minha viagem, como de costume.
Comprei um conjunto de calça e jaqueta impermeáveis e algumas alças para prender na bicicleta. Antes de ir embora ainda ganhei dois pés de moleque da bela e atenciosa Núbia, os quais foram a minha refeição da tarde para acabar de chegar em Getúlio Vargas.
O trecho de rodovia entre Erechim e Getúlio Vargas foi o mais perigoso da viagem até agora. O acostamento quando havia era pura pedra solta. E muitos lugares não só não tinham acostamento como tinham uma vala no lugar. Para piorar, as tartarugas que separam as pistas eram gigantes, de forma que os carros praticamente não podiam mudar de pista para ultrapassar. Minha solução foi tomar o meio da pista e ficar olhando para trás toda hora para ver se vinha algum veículo. Quando vinha, eu dava passagem e depois voltava a ocupar a pista. Ficar na borda ali era pedir para ser jogado para fora, talvez num dos trechos de vala. Tomando a pista nenhum motorista poderia me ignorar. Em Getúlio Vargas me contaram que ninguém se arrisca de bicicleta ali.
Eu também andava querendo levar a bicicleta para uma revisão preventiva, e também para verificar se a catraca estava precisando de lubrificação ou algo assim, tendo em vista que a roda livre tava pesada quando girando para trás. Pretendia fazer isso em Erechim, porém como ficou tarde, acabei deixando para outro dia. Mas pense num dia que termina feliz. Encontrei na mesma rua um hotel cujo dono é ciclista, um restaurante barato e de comida simples muito bem feita, e uma bicicletaria!
O Flávio da bicicletaria Brutalize conferiu a bike, limpou e lubrificou corrente, calibrou pneus, até trocou as pastilhas de freio e no final não aceitou de jeito nenhum que eu pagasse nada! Enquanto esperava, chegou na loja o Rossi que está planejando percorrer de bicicleta a América de Ushuaia ao Alaska! Conversamos muito, acredito que mais de hora. Ele é do tipo contido, que fala baixo, que pensa fundo. Esse é o tipo de pessoa que planeja e executa com sucesso um projeto como esse. Em silêncio se chega longe. Mais um irmão de espírito que encontro na estrada.
Este site é basicamente um lugar para descarregar meus pensamentos sobre os mais variados assuntos que me interessarem. No momento se trata de viagens de bicicleta sem marcha e fixa. Você pode falar comigo escrevendo para contato_autor@bus142.net