General Carneiro a Irani
"A aventura começa onde o planejamento termina"
Acordei com preguiça hoje e quando ouvi o barulho de chuva, aproveitei para dormir mais um pouco. Acordei novamente achando que devia ser umas 9h mas não, 7h17 ainda. Tomei o café da manhã do hotel, e ao voltar ao quarto para pegar a bicicleta, estava voltando a chover. Paciência, pensei. É exatamente pensando neste tipo de situação que eu estou adiantado no meu cronograma e ainda tenho dias extras para usar se precisar. Vou esperar parar.
Tem sido uma experiência muito visceral conhecer a geografia desse jeito, na pele. A vegetação e as paisagens vão mudando, assim como a cultura, hábitos e meios de vida do povo. Parte dessas mudanças se deve à diminuição das temperaturas conforme desço as latitudes em direção norte.
Lá pela altura de Ventania, estava começando a refletir que minha preparação para a chuva estava adequada até em torno de uns 15 graus de temperatura. O que é uma aposta razoável para uma viagem exclusivamente diurna no verão das regiões que tenho passado. Entretanto, este está sendo um verão de temperaturas anormalmente baixas. Sem chuva eu poderia ficar confortável em temperaturas próximas de zero enquanto pedalando, porém a água complica o frio.
Saí após a chuva ter parado e a manhã estava fria, nublada e enevoada. Em meio ao ambiente verde de florestas preservadas, ouvindo sons de pássaros inéditos para mim, era aquele tipo de situação onde era muito difícil querer ter pressa.
Entretanto, minha alegria não durou muito. Logo a chuva voltava. Meu equipamento me mantém confortável até em chuva forte em torno dos 18 graus ou mais, ou com chuva fraca até em torno dos 15 ou um pouco menos. Porém, chuva forte e frio abaixo disso, começa a não ser divertido. Hoje tive isso. Parei um pouco em um ponto de ônibus no caminho, esperei a chuva amenizar. Continuei pedalando e ela voltou a apertar. Já desconfortável alcancei um posto em torno das 11h e pouco, onde esperei o almoço ficar pronto.
Entrar no restaurante amenizou um pouco o frio, mas assim que o calor do exercício diminui, estava ruim de novo. Usei o wifi para pesquisar previsões do tempo e soluções para meu maior conforto. Escrevi para duas lojas de esportes de aventura de Erechim, cidade onde devo passar amanhã, explicando a situação e perguntando sobre impermeáveis. Uma delas me respondeu e parece ter bastante coisa dentre a qual devo conseguir escolher o que preciso.
De volta à estrada, depois de fazer a digestão, o conforto melhorou. Logo entrei no estado de Santa Catarina, a chuva parou e a temperatura também subiu um pouco. Porém isso não durou muito.
Em um determinado momento, de frente para um restaurante que supus ser o último abrigo por alguns quilômetros, parei e fiquei analisando o tempo. O vento soprava forte contra mim, indicando que a chuva que eu via ao longe no horizonte logo chegaria. Também observava as lonas de caminhão vindos daquela direção para ver se estavam molhadas e quanto. Resolvi esperar um pouco e, uns 20 minutos e uma chuva bem forte chegava.
Me abriguei no restaurante, onde um ex jogador de futebol profissional ficou puxando assunto. "Em Montevidéu, você tem de visitar o mercado do porto! Se não visitar, você não conheceu Montevidéu". Foi o que guardei de nossa conversa. Em breve chegou um colega de nome para mim impronunciável, viajando de CG125, e conversamos sobre estradas, viagens e proteção contra chuva.
Depois que a chuva parou e peguei a estrada, ainda parei em um outro poucos quilômetros à frente já que ela voltou. Por fim segui quando possível, mas claro que ela me alcançou de novo. É freqüente que quando chova também haja vento, e as nuvens costumam se agrupar em conjuntos com espaços entre elas. Assim, para quem está no chão, parece que a chuva vem em ondas: quando começa a parar ela na verdade está só diminuindo para voltar em seguida. Analisando o intervalo entre as chuvas e se a intensidade está aumentando ou diminuindo, com prática você consegue ter uma boa noção de quanto tempo ainda vai durar. Coisas que os cicloviajantes aprendem na marra, com os olhos atentos no horizonte, nos ventos, e outros fatores.
Saindo tarde, com todas essas paradas e o cansaço que pedalar na chuva traz, o dia não rendeu muito. Para quem observou com atenção o meu itinerário planejado e as cidades onde efetivamente tenho parado, deve ter reparado que eu estava adiantado. Pois hoje essa minha vantagem ficou para trás, e consegui chegar somente até a cidade onde estava projetado de dormir no planejamento original. Para recuperar a vantagem vou ter de apertar o passo. Está tudo muito tranquilo porque tenho dias adicionais, só que eu gosto de levar o plano à sério garantir a execução.
Achei um posto/hotel/restaurante do lado das rodovia em Irani, onde estou agora escrevendo este texto depois de já ter jantado, tomado banho e lavado as roupas. Além de passar na loja de equipamentos de aventura, preciso também passar em uma bicicletaria pois a roda livre não está girando para trás tão suave, o que imagino que esteja me roubando velocidade nas descidas. Provavelmente é só o caso de lubrificar, não sei se chega a precisar desmontar algo. Então o dia amanhã começa cedo, e me desculpem que não vou responder nenhuma mensagem particular hoje (a não ser que acorde sem sono de noite). Obrigado por me acompanharem, compartilharem, e por todo apoio de vocês!
Este site é basicamente um lugar para descarregar meus pensamentos sobre os mais variados assuntos que me interessarem. No momento se trata de viagens de bicicleta sem marcha e fixa. Você pode falar comigo escrevendo para contato_autor@bus142.net